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Nesse ambiente, a retomada pode ganhar fôlego sem gerar pressões inflacionárias relevantes, com a Selic inalterada por um período considerável. Se a agenda de reformas avançar e o quadro internacional não ficar hostil aos emergentes, um crescimento de 2,5% a 3% em 2019 é factível, depois de um avanço frustrante neste ano, na casa de 1,5%. O PIB do terceiro trimestre cresceu 0,8% em relação ao trimestre anterior, alta mais forte que o aumento de 0,2% dos três meses anteriores, quando houve o efeito da greve dos caminhoneiros.
“A posição cíclica da economia favorece a retomada do crescimento”, resume o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa. Segundo ele, há um cenário benigno formado por inflação e juros em níveis baixos, endividamento menor de empresas e consumidores, capacidade ociosa elevada, evidente no mercado de trabalho e na indústria, e um pequeno déficit externo.
Barbosa aponta também a melhora no mercado de crédito, englobando aí o comportamento de empréstimos bancários, do mercado de capitais e de captações externas. Há ainda um quadro um pouco melhor no mercado de trabalho, com maior geração de empregos.
Se no próximo ano a agenda de reformas fiscais e de estímulo ao crescimento avançar, a melhora recente das condições financeiras deverá se traduzir em expansão mais forte da atividade, diz Barbosa. Os juros futuros caíram, o câmbio se valorizou, a bolsa subiu e o risco-país cedeu, nota ele. Barbosa vê espaço para o PIB crescer 2,8% no ano que vem – para este ano, projeta 1,1%.
Os economistas destacam a grande ociosidade na economia, que levará um tempo considerável para ser preenchida. Isso abre espaço para a atividade ganhar velocidade sem pressionar a inflação, num quadro em que os índices de preços estão comportados, como diz o economista-chefe do Morgan Stanley para a América Latina, Arthur Carvalho. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve fechar 2018 abaixo de 4%, nível inferior à meta de 4,5%.
No mercado de trabalho, a taxa de desemprego deve ficar em 12,1% na média deste ano e em 11,1% na do ano que vem, nas estimativas da economista-chefe da Rosenberg Associados, Thais Marzola Zara. Como ela calcula que a taxa de desocupação que não acelera a inflação está em torno de 8,5%, o desemprego em 2019 ainda deverá ficar bastante acima desse nível.
Carvalho considera que, com a reforma trabalhista, as empresas tendem a gastar primeiro com contratações do que com investimentos, uma vez que o mercado de trabalho se tornou mais flexível. No entanto, isso não deve se traduzir em alta preocupante da inflação. Para Carvalho, o desemprego ainda deverá fechar 2019 em 10,4%, um número acima dos cerca de 8% que, estima ele, pressionariam os índices de preços.
A situação na indústria é tranquila. O nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) de novembro foi de 75,2%, abaixo dos 76,4% de outubro, conforme dados com ajuste sazonal da Fundação Getulio Vargas. É um número baixo, inferior à média observada desde 2001, de 80,6%. “O crescimento mais forte não deve gerar inflação porque há muita ociosidade na economia”, diz Carvalho, que vê um IPCA de 3,8% neste ano e de 4% em 2019 – inferior à meta de 4,25% do ano que vem.
Thais também vê um quadro tranquilo para a inflação, permitindo que o Banco Central (BC) mantenha os juros nos atuais 6,5% ao ano por um período razoavelmente longo. Ela espera a primeira alta da Selic para setembro do ano que vem, acreditando que a taxa vai terminar 2019 em 7,25%. Na visão de Thais, a ociosidade só será preenchida em 2020, mas o BC aumentará a Selic um pouco antes porque a política monetária age com defasagem sobre a economia. Barbosa, que projetava a primeira elevação da Selic para o segundo trimestre do ano que vem, acredita que o aumento pode ser adiado. Com a grande capacidade ociosa, a inflação está comportada, diz ele.
Carvalho só vê duas altas da Selic no fim do ano que vem, com o BC começando a ajustar a política monetária com vistas à inflação de 2020. Os juros encerrariam 2019 em 7,5%, segundo o economista do Morgan Stanley. Ele projeta uma expansão do PIB de 2,3%, um número mais modesto do que o 2,8% estimado por Barbosa e também por Thais. Para ele, o investimento terá alta mais moderada do que em recuperações anteriores, quando chegou a crescer a taxas de dois dígitos nos períodos que se seguiram a recessões.
Há muita capacidade ociosa, o custo de capital é elevado e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deve continuar a jogar na retranca, avalia Carvalho, projetando alta para o investimento de 2,6% neste ano e de 5,5% no ano que vem. São números inferiores aos 3,5% e 6,5% estimados pelo Bradesco, por exemplo. O economista do Morgan Stanley se diz “cauteloso” ao falar sobre as perspectivas econômicas do Brasil, observando que o processo político pode ser conturbado. Ele trabalha com a aprovação de uma reforma da Previdência parecida com a última versão discutida no Congresso da proposta do governo de Michel Temer, ou um pouco mais dura.
Um dos fatores que podem abortar a aceleração da retomada é justamente uma eventual decepção com o andamento das reformas. Isso afetaria a recuperação da confiança e colocaria pressão no câmbio e elevaria os juros futuros e o risco-país, por exemplo. As condições financeiras piorariam, comprometendo a melhora da atividade, dizem os analistas. A agenda para enfrentar o problema fiscal e elevar o crescimento é fundamental para que o cenário mais positivo se concretize, segundo Barbosa.
Outro ponto que pode abalar a retomada brasileira é o cenário internacional, destaca o economista-chefe do Bradesco. Há as incertezas em relação ao ciclo de alta dos juros americanos, o temor de enfraquecimento do crescimento global e as tensões comerciais entre EUA e China. Na semana passada, porém, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, deu sinais de que o aperto monetário será menos duro do que se pensava. Na visão de Barbosa, o discurso de Powell foi um alívio, mas seria cedo para dizer que o cenário para os emergentes será mais favorável – o quadro para a política monetária americana ainda permanece em aberto.
Se as reformas caminharem e o ambiente internacional não se deteriorar, há espaço para a economia ganhar velocidade ao longo do ano que vem, reitera Barbosa, que vê o PIB crescendo a um ritmo anualizado de 3% a 4% na segunda metade de 2019.
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