Empresas já estão tendo de elevar salários nos EUA

Empresas já estão tendo de elevar salários nos EUA
  • 11
    maio

Empresas já estão tendo de elevar salários nos EUA

Enquanto investidores sofisticados discutem as sutilezas das taxas de juros negativas e sofrem com a indefinição sobre a próxima alta dos juros nos EUA, é a plebe que pode acabar causando uma reviravolta nas bolsas. As empresas americanas estão diante de um problema com o qual não se deparavam há anos: salários em alta. Esse pode ser o fator que vai derrubar um mercado que exibe a incômoda combinação de lucros em queda e preços das ações elevados.

Pela primeira vez desde a crise financeira, os trabalhadores dos EUA estão pedindo aumento e, de fato, estão conseguindo – ou estão deixando seus empregos.

O número de trabalhadores que pede demissão aumentou, sinal de que estão confiantes em conseguir novo emprego. E as empresas odeiam perder bons funcionários. Agora, o tempo necessário para preencher uma vaga é de 27 dias, o maior desde pelo menos 2001, segundo o Deutsche Bank. Só 32 empresas anunciaram demissões no primeiro trimestre, o número mais baixo em sete trimestres, segundo o Bank of America Merrill Lynch.

Os trabalhadores americanos estão sendo apoiados pelos políticos. Ao menos 15 Estados do país elevaram o salário mínimo neste ano, alguns para até US$ 15/hora.

Essa mudança em favor do trabalhador, embora pequena, ocorre num momento em que a maioria dos investidores está voltada para outras paragens, ainda que o mercado seja vulnerável ao menor desequilíbrio nos fundamentos.

O aumento salarial nos EUA demorou a chegar. O crescimento dos salários após a recessão foi o mais lento em 50 anos, segundo o banco Goldman Sachs. Um dos dados mais pífios desde a crise financeira foi a participação do trabalhador no PIB, que foi de 52,5% em 2011, o menor nível já registrado.

Mas, desde então, subiu dois pontos percentuais, de volta ao nível de antes da crise. Ninguém crê a que voltará aos níveis de décadas atrás, quando a economia era mais saudável, os sindicatos mais fortes e a inflação maior. Mas, após a economia americana ter criado oito milhões de empregos nos últimos três anos, as pressões sobre os salários estão mais fortes, o que pode frear o crescimento do emprego.

“Mais dinheiro está indo para o bolso do trabalhador”, diz Brian Schaitkin, economista sênior do Conference Board, entidade de pesquisa empresarial. “Salários maiores vão exercer pressão para baixo sobre o lucro das empresas.”

O salário médio por hora subiu 2,5%, diz o relatório sobre emprego divulgado na semana passada, um avanço maior do que muitos investidores esperavam. O aumento dos salários ainda está abaixo da taxa histórica de 3,1%, segundo o Goldman Sachs, mas, em alguns setores, a pressão salarial é maior.

Ao contrário de muitas estatísticas que preocupam os investidores, esses dados importam realmente no mundo real. Salários baixos, como proporção do PIB, indicam que uma porção maior do lucro está indo para o dono da empresa do que para os trabalhadores. Isso eleva a desigualdade entre risco e pobres, que já estava crescendo muito antes da recessão.

A desigualdade é agravada ainda pelo afrouxamento monetário do banco central, que, por sua natureza, empurra para cima os preços de ativos como imóveis, ações e títulos de dívida, que são aqueles em mãos dos mais abastados. O aumento do salário mínimo e a excêntrica campanha presidencial podem ser parcialmente culpados pelo aumento da desigualdade.

No nível macro, salários maiores podem levar empresas a contratar menos trabalhadores. Esse pode ser um motivo para os dados de emprego ruins da semana passada. Em pesquisa do Conference Board, mais CEOs previam redução nas contratações de suas empresas que aumento, pois o custo da mão de obra está subindo.

Por outro lado, as empresas podem absorver os salários maiores porque veem melhores perspectivas de crescimento. Isso depende de quanto da nova renda os trabalhadores vão gastar ou economizar. Eles não gastaram, por exemplo, as economias geradas com o preço baixo da gasolina.

Em termos de lucro, os analistas do Goldman acreditam que, quando os custos trabalhistas crescem 3% ao ano, então cada ponto extra de crescimento nos salários reduzirá em 0,7% o lucro das empresas que compõem o índice S&P 500. Os setores mais afetados pelo crescimento dos salários incluem os de restaurantes, hotéis, varejistas, fábricas e de assistência médica.

O Goldman estima que os lucros da indústria recuarão 1,2% para cada ponto percentual de alta nos salários. Nas empresas de bens de consumo, os ganhos cairão 1,1%.

As pressões salariais podem se tornar uma nova realidade para as empresas. Estudo do Conference Board diz que a população economicamente ativa crescerá a uma taxa baixa até 2030, criando um mercado de trabalho mais apertado. Se os salários seguirem subindo, um vencedor improvável seria o setor petrolífero, e não só porque trabalhadores mais bem remunerados costumam comprar carros grandes. O setor é menos intensivo em trabalho. Então, mesmo que o preço do petróleo continue baixo, essas empresas podem começar a parecer um bom negócio.

Fonte: Força sindical

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