Massa salarial recua 11,2%, pior resultado desde junho de 2011

Massa salarial recua 11,2%, pior resultado desde junho de 2011
  • 24
    mar

Massa salarial recua 11,2%, pior resultado desde junho de 2011

Os efeitos negativos da recessão sobre o mercado de trabalho, que se manifestam nos indicadores desde meados do ano passado, se intensificaram em 2016 e estão prejudicando o desempenho não apenas emprego, mas também da renda.

Depois de recuar 2,7% em janeiro, na comparação com o mesmo período de 2015, a ocupação caiu para 3,6% no mês passado nas seis principais regiões metropolitanas do país, conforme a Pesquisa Mensal de Emprego, uma perda de 842 mil postos de trabalho. O rendimento médio real, por sua vez, encolheu 7,5%, no mesmo confronto, após recuo de 7,4% em janeiro.

Essa combinação levou a massa salarial a recuar 11,2% no mês passado, um dos piores resultados da série histórica da PME. Somando R$ 50,8 bilhões na série do IBGE corrigida pela inflação, a massa de rendimentos – que representa uma fatia importante do volume de recursos disponível para o consumo nas regiões – recuou ao nível de junho de 2011, quando chegou a R$ 50,9 bilhões. A taxa de desemprego, por sua vez, passou de 7,6% em janeiro para 8,2% em fevereiro.

A contração forte da renda levou a LCA Consultores a revisar a projeção de queda do indicador para o ano de 2,5% para 2,8%. As estimativas, diz o economista Fabio Romão, servem apenas para balizar as expectativas, já que a PME será substituída pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. O desempenho só não será pior, segundo ele, porque a inflação, que já dá sinais claros de desaceleração, deve aliviar as perdas dos salários em termos reais, fechando o ano em 7,4%.

“A tendência para este ano continua sendo de queda, já que a crise diminui o poder de barganha dos sindicatos”, afirma Patricia Krause, da Coface, seguradora de crédito francesa. Nesse cenário, diz ela, os níveis de inadimplência, que já sofreram alta importante em 2015, devem seguir elevados neste ano. E não apenas entre os consumidores – no ano passado, o número de sinistros pagos pela Coface, que segura os recebíveis das empresas, cresceu 200%, diz Patricia.

As perdas na renda, avalia a economista, devem se traduzir mais à frente em alívio maior dos preços, especialmente os de serviços, e abrir espaço para que o BC possa cortar juros, o que a economista estima que aconteça no início de 2017.

Romão, da LCA, chama atenção para o volume expressivo de vagas perdidas no comércio, queda de 3,2% sobre fevereiro de 2015, e nos serviços, 2,7%, conforme a série elaborada pela consultoria e que agrega as diferentes atividades que compõem o setor na PME. O desempenho reforça o cenário mostrado pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de fevereiro, ressalta, que também apontou uma desaceleração maior dos dois setores, ambos bastante ligados à dinâmica da renda das famílias.

Nesse sentido, Romão ressalta a terceira retração consecutiva no nível de emprego nos serviços domésticos, de 4,5% no confronto com fevereiro do ano passado. “Entre 2011 e 2013, a queda observada nesse segmento veio de uma decisão dos empregados, que viram oportunidades com carteira assinada em outros setores”, afirma. Agora, diante do aumento do custo desse tipo de serviço, bastante indexado ao salário mínimo, e do nível baixo de confiança do consumidor, avalia, as quedas consecutivas indicam uma iniciativa dos empregadores.

Adriana Beringuy, pesquisadora do IBGE, chama atenção para a contração forte do nível de emprego da indústria, 9,8% em relação a fevereiro de 2015. O desempenho, avalia, explica em parte a redução expressiva do número de vagas com carteira assinada no período, 4,1%. A participação da indústria no total da ocupação, que chegou a 17,5% no início da série da PME, em março de 2002, encerrou fevereiro em 14,1%. Para Adriana, o desempenho negativo do comércio deveu-se em parte à sazonalidade -desligamentos dos temporários admitidos no fim de 2015.

Os economistas Jankiel Santos e Flávio Serrano, do Banco Haitong, observam que o desemprego só não tem atingido níveis mais altos nos últimos meses porque a procura por trabalho não tem crescido de forma significativa na PME.

Em fevereiro, a população economicamente ativa (PEA) encolheu 1,1%, depois de recuar 0,1% em janeiro, sempre na comparação com o mesmo período do ano anterior. Caso a taxa de participação, que chegou a 54,2% da população em idade ativa (PIA), tivesse se mantido na média histórica, eles calculam, de 56,8%, a taxa já teria passado de dois dígitos.

Fonte: Força sindical

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